FW 22/23
ADEUS, ATÉ AO MEU REGRESSO
Há quem ainda saiba de cor o gesto do adeus que não adivinha retorno. Talvez por ser cicatriz de um país. No diálogo investigativo dessa procura, que explora a despedida na concretização do seu conceito — na esperança latente e na consciência de um fim irreversível —, e não no abstratismo corrente, nasce esta coleção. Em cada coordenado está a história de quem partiu, de quem deixou e de quem se deixou ficar. São ondas secas e quentes que ainda abalam os alicerces de uma família despida, geração após geração, pela guerra e pela emigração. Sobre o objeto, único sobrevivente material da perda, recai o peso simbólico de um país, do amor e da esperança. Um lenço branco, a ponta de um lençol, um enxoval roubado. Também nele estão fronteiras saltadas e lágrimas secadas, males falsificados para conseguir fugir. Estão promessas de melancolia e regressos à sombra de um cipreste. “Vai dizer às tuas irmãs, não façam como tu fizeste”.
Um adeus, cumprimentos à família,
até ao meu regresso.