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O PREGUIÇOSO
Afastando-se dos formatos tradicionais dos desfiles de Moda, João Magalhães apresenta a sua mais recente coleção, “O Preguiçoso”, numa instalação-performance no seu atelier. O novo trabalho do Designer é o culminar de meses de exploração e experimentação, refletindo a sua crescente insatisfação com o estado atual da Indústria de Moda. Magalhães procura desafiar o consumismo e a superficialidade que, muitas vezes, predominam na área da Moda, defendendo uma abordagem mais sustentável e com propósito.
“A Moda deveria ser sobre mais do que só fazer coisas”, afirma Magalhães. “Enquanto artista, a minha responsabilidade é transmitir um significado mais profundo através do meu trabalho.”
A coleção do Designer é acompanhada por uma série de ilustrações, um reflexo da sua contínua exploração de novos suportes para comunicar a sua mensagem. A instalação serve como um poderoso protesto contra a perseguição constante das grandes marcas e as pressões económicas enfrentadas pelos Designers emergentes em Lisboa.
“Estou a apresentar apenas quatro peças novas. Recuso-me a fazer grandes quantidades de roupa enquanto não vender o que já fiz. A roupa não é um ovo ou um legume. Não apodrece de uma estação para outra.”
A decisão de Magalhães de renunciar a um desfile tradicional é uma declaração deliberada contra a natureza insustentável da Indústria de Moda. O Designer acredita que o ciclo constante das Semanas de Moda, que muitas vezes resulta apenas numa quantidade mínima de vendas e exposição internacional limitada, é constritivo e prejudicial.
“Não posso dar-me ao luxo de fazer um desfile de Moda para que as pessoas possam fazer uma story no Instagram e seguir em frente. Tenho trabalhado como freelancer, o que limita o meu tempo. Não posso dar-me ao luxo de fazer um desfile, nem quero. Porque é que a arte é vista como um bem desejável por aqueles que a podem pagar, e a roupa é vista como supérflua, mesmo quando as técnicas utilizadas são intercambiáveis e o processo criativo é o mesmo?”
Ao apresentar a sua coleção num ambiente íntimo e interativo, Magalhães pretende promover uma ligação mais profunda entre o seu trabalho e o público. O Designer espera desafiar a perceção de Moda como mero produto, e encorajar os espetadores a envolverem-se no processo criativo por detrás de cada peça.
“Nesta performance, estou dentro de uma jaula, como um animal de circo, para ser visto pelo público enquanto trabalho”, diz Magalhães. “É como na minha vida real: o público quer assistir e sentir-se incluído, parte do meio da Moda... mas não quer, ou não pode, envolver-se com o produto. Os gostos no Instagram não pagam as minhas contas. Fui acusado de ser preguiçoso, por isso pensei... se sou visto como preguiçoso, então vou dar-vos um vislumbre de tudo o que está numa coleção antes de cortar um molde ou coser uma manga. Literalmente meses de pesquisa, leitura, pensamento, sentimento. Acrescentar e retirar”.
À medida que a Indústria de Moda continua a evoluir numa direção incerta, o trabalho de João Magalhães serve como um lembrete da importância da autenticidade, sustentabilidade e expressão com significado. Magalhães convida-vos a apoiar não só o seu trabalho, mas também o resto da comunidade emergente da Moda portuguesa. Ao comprar uma pequena obra de arte ou mesmo ao adquirir peças de coleções anteriores, pode ajudar-se a garantir que artistas e designers verdadeiramente talentosos, entusiasmantes e autênticos possam continuar a perseguir as suas paixões sem comprometer a sua visão. Vamos apoiar coletivamente o futuro da Moda portuguesa e celebrar a criatividade e a resiliência dos talentos emergentes.